O que são alguns minutos? Depende.
Eu estava na fila da farmácia. De repente a fila empaca na minha frente. Apenas
uma caixa a postos. A mulher já havia dado o dinheiro para a caixa que
perguntou:
- Por
acaso a senhora tem um real e cinco centavos aí?
E a
mulher diz:
-
Vou procurar.
Aí vai, abre a bolsa, procura a
carteirinha de moedas e nada. Com muito custo acha, e abre na maior calma do
mundo. O fecho empaca! Ai, ai, é pesado, mas vai. Agora ela procura entre as
moedas, a de um real e a de cinco centavos. Uma eternidade! A fila começa a se
irritar. Alguém solta uma frase:
-
Não tem mais caixas não?
A
mulher não acha a moeda de um real nem a de cinco centavos. A caixa se
arrepende do pedido, diz que não precisa, porém a mulher não ouve, quer
colaborar de tudo quanto é jeito na maior gentileza. A fila chega ao seu ponto
máximo de impaciência. A mulher diz:
-
Pera aí, tem a outra bolsinha e desata a procurar a outra bolsinha. Esperemos,
minha gente! A bolsinha está dentro da bolsa grande. Todos topariam contribuir
com o trocado pedido, mas é indelicado, fica chato. A solução é esperar.
Eu
tento me controlar porque minha natureza também é impaciente, não é à toa que
desde menina era chamada de formiguinha, sou ágil, ando depressa, acho as
coisas depressa, vivo depressa. Não é possível essa demora, ainda preciso
passar no supermercado.
Felizmente
reflito: o que são alguns minutos a mais? Qual o problema de esperar? Que
diferença farão seis, oito ou dez minutos na minha vida? Bom, em alguns minutos eu
posso morrer, ou posso receber um telefonema avisando que fui premiada num
desses sorteios de capitalização, ou no bilhete para a festa da igreja.
Em
alguns minutos alguém muito querido que eu não vejo há tanto tempo pode entrar
na farmácia e me dar um abraço apertado daqueles especiais! Em alguns minutos de atraso alguém pode perder
um voo do avião que logo depois pode cair. Em alguns minutos deste mundo
impaciente, aqui, enquanto espero, posso receber aquela revelação celestial ou
aquela inspiração dos deuses e então poderei escrever uma crônica ou um poema
genial, quem sabe, o melhor de minha vida.
Em alguns poucos minutos eu já não serei mais a
mesma, pois sei que a cada instante mudamos, nunca somos mais os mesmos e às
vezes isto se dá não apenas em anos, dias, mas em segundos, verdade benfazeja e
ao mesmo tempo dolorosa. Em alguns poucos minutos tudo pode acontecer. E no
frigir dos ovos, se nada acontecer mesmo, eu terei tido, pelo menos, a
oportunidade de pensar e refletir sobre a fragilidade e a transitoriedade da
vida.
Finalmente a mulher acha a bolsinha,
tira a moeda de um real e a de cinco centavos, entrega para a caixa. Depois
olha para todos nós na fila, sorri e vai embora. Só seis minutos.
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