sexta-feira, 9 de novembro de 2018

BABÁ - Um encanto de pessoa



            Estava eu ontem, dia 4, assistindo à missa na Matriz da Soledade quando ouvi a Primeira Leitura que tratava dos 144.000 assinalados. Impossível não me lembrar da Babá, mulher excepcionalmente encantadora que tive a honra de conviver por longos anos. Ela e minha mãe eram muito amigas, coisa de confidentes mesmo. Lembro-me de quando minha mãe ia até sua casa e em seu quarto trocavam desabafos, mas 98% das conversas versavam sobre orações, vidas dos santos, como devia ser o Céu e tal e tal. Eram tão amigas e tão piedosas que quando se encontravam seu cumprimento não poderia ser outro:
- Mamãe: E o anjo do Senhor anunciou a Maria!
- Babá: E ela concebeu do Espírito Santo.
- Mamãe: Eis aqui a escrava do Senhor,
- Babá: Faça-se em mim segundo à Vossa Palavra.
- Mamãe: E o Verbo Divino encarnou,
- Babá: E habitou entre de nós!
            A Babá se chamava “Sebastiana Inês”, mas “Babá” acabou por ser incorporado ao seu nome, ou seja, ela era sempre chamada e conhecida pelo apelido de Babá por crianças e adultos. Menina ainda, foi criada pelos avós de minha prima. Babá ajudou a criar ou criou mesmo a primeira geração da família e depois a segunda. Era amada por todos. Lembro agora do nosso saudoso Darci que adorava de paixão a Babá e ia muito à sua casa. Em seus aniversários Babá recebia presentes de todos da família, como das amigas da igreja, aliás, Babá não saía de lá. Enquanto pôde, ela subia o morro da igreja para assistir à missa das 6 da manhã e, imagine, já ficava pra missa das 7. Todo mundo já sabia.
            Quando ficou mais velha e com mais dificuldades para andar, minha mãe arrumava seu almoço e me pedia para levar lá pra ela. Babá era extremamente carinhosa comigo. Via como eu me preocupava com a mamãe e dizia, rindo: A filha é mãe da mãe, kkkkk.
            Minha prima Musa foi encarregada de recolher certa quantia dos irmãos e primos que ajudaram a Babá em sua velhice. Musa comprava os medicamentos e levava para ela que lhe dizia: Oferece mãezinha, oferece! (a Deus). Ela chamava a Musa de mãezinha! Quando a Musa voltava do trabalho, quase sempre ia buscar a Babá para ficar com a tia Odete, e depois a levava de carro para casa. No elevador, olhando a Musa pelo espelho, a Babá dizia: Oferece, oferece, querendo dizer que “dava muito trabalho”.
            Babá cometia apenas uma “contravenção religiosa”: jogava no bicho. Alguém lhe dava algumas cartelas e logo ela mandava uma das minhas primas com um dinheiro dobrado miudinho para entregar a quem de direito. Se minhas primas não estivessem em casa, servia qualquer um. Da janela ela chamava qualquer pessoa que morasse no bairro ali pertinho onde ficava a lotérica do bicho. Seu Geraldo Charreteiro muitas vezes parou sua charrete para a Babá que acenava para ele e assim também cumpria este papel de entregador dos trocadinhos do jogo.
Não sei se por causa deste “deslize” para mulher tão santa, ela se preocupava com o portão do Céu. Seria aceita? É onde agora eu retomo o início deste relato. Em Apoc. 7, 1-8, diz a palavra: “Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que tenhamos assinalado os servos de nosso Deus em suas frontes”. “Ouvi então o número de assinalados: cento e quarenta e quatro mil  ...” E a Babá, preocupadíssima, perguntava para minha mãe se ela estaria incluída nesses 144.000. Minha dizia que sim, que “é lógico, minha filha, você está incluída, se não estiver, quem estará?” E Babá foi para o Céu mansamente, numa santa morte, em 1996, deixando muitas saudades. Sua lembrança para nós é tão doce que suponho ter ela deixado seu coração conosco.
É como ouvi de minha prima Alice Carvalho: a vida é tão rica, Deus é tão bom! 
  

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