Quando
o cansaço impera, quando as horas sem dormir se acumulam, quando o desânimo
ataca e simplesmente queremos abandonar tudo e ir para bem longe para não
sofrer mais, a única coisa que alivia é deixar as lágrimas escorrerem a bel
prazer para a alma ficar mais leve. E o tempo passa e parece que nada acontece.
Rezar? Não temos cabeça, nem coração e eu bem sei hoje que quando estamos
assim, devemos procurar pessoas que imponham suas mãos abençoadas sobre nós e
peçam a Deus que nos ajude. Não conseguimos nem articular palavra. E o duro é o
silêncio de Deus. É que Ele conhece nosso limite e atenderá sim a oração feita
com amor e humildade. Mas ainda não é o momento. Tudo é aprendizado. Não é a
chegada, é a caminhada que nos faz crescer.
Sim,
eu sofri tudo isso há muitos anos atrás. Minha mãe passou de uma séria
depressão para uma demência. Tínhamos em casa uma pessoa de extrema compaixão e
excelente ajudante para as tarefas domésticas. Ela foi o primeiro anjo que Deus
já havia providenciado bem antes, Ele que sabe de todas as coisas e, portanto,
sabia que passaríamos por provações. Somos impacientes, queremos que tudo se
resolva na hora. Não é assim. Temos que respirar fundo e seguir batalhando.
Chegará o momento.
Eu
me lembro na época de pensar assim: deve haver alguma pessoa que entenda como
lidar com tudo isso e esta pessoa ficará sabendo da minha angústia e ela vai
bater à minha porta e dizer: Misa, deixa tudo comigo. Vai pra sua casa, toma um
banho gostoso, deita na sua cama e descansa. A gente quer delegar, é humano. No
momento simplesmente não há ninguém para delegar e nós não podemos abandonar o
barco.
Aos
poucos fomos encontrando cuidadoras, uma aqui, outra ali, mas nada é perfeito.
Tivemos muitas decepções, erramos mais do que acertamos. Finalmente chegou
outro anjo e seu nome era Sandra. Serei eternamente grata à Sandra pelos
cuidados e carinho que dispensou à minha mãe. Como a mamãe gostava da Sandra!
Que valor tem esta pessoa!
Algum
tempo depois, a própria Sandra sugeriu que contratássemos sua irmã. Foi o
terceiro anjo e seu nome era Meire, a moça que está com minha mãe na foto. Eu,
particularmente, só pude dormir melhor quando sabia com certeza que minha mãe
estava feliz com ela, sempre carinhosa, alegre e dispensadora dos maiores
cuidados. Era reconfortante assistir ao sorriso estampado no rosto de minha mãe
quando chegava quem ela gostava tanto, apesar de não ter a menor ideia de quem
seria essa moça que chegava e ia embora. Nem mesmo seu nome ela sabia e quando
queria chamá-la saíam os mais variados nomes possíveis.
Nunca
vou me esquecer de quando essa preciosa colaboradora estava em seu último dia
de férias e minha mãe, que até então não tinha percebido nem mencionado sua
ausência, numa clara lucidez no meio de uma cruel demência, ela disse: “A
Maria me deixou...” ao que eu me apressei em lhe dizer que não, que
exatamente no dia seguinte ela voltaria, mas a essa altura sua mente já vagava
por outras paragens, já havia se esquecido do comentário e da presença de sua
Maria.
É
imperioso que o idoso dependente goste de quem o cuida. A vida para o paciente
se tornou cruel, ele praticamente já perdeu tudo, seus parentes, sua saúde e
muito importante, sua autonomia. Ele depende inteiramente dessas pessoas. Se o
paciente não sorrir feliz quando o cuidador chega, é preciso repensar. Procure
outro, troque, até que haja empatia.
E
tudo passa. Tudo passa, até que sobrevenham outras tempestades. Temos que nos
lembrar de que esta vida não é nossa morada, é nosso barquinho (Sta Teresinha)
e este barquinho é frágil no meio de tantas ondas bravias.
Cuidar
de uma pessoa idosa e demente é trabalho do coração, é dom. Minha eterna gratidão
à Ana, Sandra e Meire que estiveram comigo em meus piores momentos de angústia,
há tantos anos! Essas mulheres foram três anjos que desceram à terra e passaram
pela minha vida e principalmente, pela vida de minha mãe, tornando seus últimos
anos mais doces, mais delicados, mais felizes.
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