sexta-feira, 26 de março de 2021

UMA LEMBRANÇA PRECIOSA

 


Em 1993 fui com minha mãe ao Rio de Janeiro para participar de um grande Encontro Internacional da Renovação Carismática. Grande encontro mesmo porque foram sete dias de palestras, missas, orações e mais orações. Havia muitos estrangeiros e gente do Brasil inteiro. Eu já era uma pessoa que procurava por algo, porém não sabia que ainda teria que percorrer um longo caminho em minha vida. Fui mais para fazer um agrado à minha mãe, um presente.

Para dizer a verdade eu só me animei a ir porque li no programa que o Pe. Canadense Emiliano Tardiff viria para esse encontro. Eu já havia lido seu livro “Jesus está vivo”, e fiquei desejando ardentemente estar presente quando este padre fizesse uma oração. É claro que eu sabia que Deus estava sempre comigo, sem precisar de terceiros. Mas eu tinha uma imensa confiança na oração do Pe. Tardiff. Ele foi uma pessoa escolhida por Jesus. E quando Jesus cisma com uma pessoa, Ele cisma. Muitos são chamados e poucos escolhidos.

Aconteceu que o Pe. Tardiff cancelou sua presença no Encontro porque estava doente. Fiquei desolada. Dei por perdida minha viagem, mas não disse isso para minha mãe, pois eu sabia que iria ouvir.   

Ficamos hospedadas no velho Hotel Nacional, aquele redondo, que foi desativado há muito tempo. Muito bom hotel na época e tínhamos uma visão deslumbrante da Favela da Rocinha. Era só abrir de fora a fora as cortinas e a janela envidraçada que rodeava todo o quarto nos oferecia aquela vista surpreendente. Como eu havia ficado desanimada com a ausência do Pe. Tardiff, adorava voltar do Rio Centro, (local do Encontro) porque podia ficar me distraindo a observar a vida pululante na Rocinha. Naquele tempo ainda não era perigoso como se tornou depois. As balas perdidas ainda não pipocavam.  

Bem, do que quero falar? Amados por Deus como somos, mesmo nesta vida de violentas tempestades, Ele, que sabe de todas as coisas, Ele, que é bom pagador, não me deixou de mãos vazias, embora eu não tivesse percebido naquela época.       

Numa manhã quando descemos para o café, o restaurante do hotel estava cheio e eu podia ouvir muitas vozes de nossos companheiros de Encontro falando inglês e espanhol. Numa mesa próxima reparei num homem, talvez colombiano ou boliviano, tanto faz, que estava prestes a começar seu desjejum. Mas antes, ele fechou os olhos, eu reparando, depois ele fez o sinal da cruz bem devagar. Ficou alguns momentos ainda de olhos fechados. Depois foi se servindo, sorridente com quem chegava à sua mesa.  

Eu achei tão bonito isso, como minha sensibilidade mandava, mas tão bonito! Fiquei encantada. Alguém poderá dizer: ora, isso é comum, muita gente faz oração às refeições. Eu sei. Minha irmã mais nova com meu cunhado e os filhos, fazem oração antes da refeição desde sempre. Quando vamos lá, participamos, é claro.

Mas o significado disso para mim naquele momento de minha vida foi especial. Deus me presenteou com aquela lembrança que ficou indelevelmente impressa em minha alma e em meu coração. Uma pessoa que se lembra de Deus na hora da refeição, que agradece e pede que Deus abençoe o alimento, é uma pessoa que já entregou seu dia e sua vida ao Senhor. Senti uma santa inveja daquele homem. A atitude dele era carregada de santidade. 

Não só nunca me esqueci disso, como essa lembrança sempre me visita carinhosamente. E só muitos anos depois, quando li Santa Teresa de Ávila, compreendi o que ela dizia quando falava: um erguer de olhos, como o publicano, já é uma grande intimidade com Deus. Deus nada despreza, Deus é Deus, faz o que quer e como quer.

Não vi o Pe. Emiliano Tardiff, não ouvi sua oração, mas não voltei de mãos vazias. Ali foi plantada uma semente. Compreendi que já no início do dia, podemos deixar Deus entrar e participar de nossa vida. E se puder, em muitos outros momentos do dia. Ele estará disponível sempre. Nós é que O afastamos para nos dar às largas ao mundo.  

Se eu tivesse santidade para ouvir Deus, certamente eu ouviria: “não tem o Pe. Emiliano Tardiff, mas você tem a Mim”.   

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