Em
1993 fui com minha mãe ao Rio de Janeiro para participar de um grande Encontro Internacional
da Renovação Carismática. Grande encontro mesmo porque foram sete dias de
palestras, missas, orações e mais orações. Havia muitos estrangeiros e gente do
Brasil inteiro. Eu já era uma pessoa que procurava por algo, porém não sabia
que ainda teria que percorrer um longo caminho em minha vida. Fui mais para
fazer um agrado à minha mãe, um presente.
Para
dizer a verdade eu só me animei a ir porque li no programa que o Pe. Canadense Emiliano
Tardiff viria para esse encontro. Eu já havia lido seu livro “Jesus está vivo”,
e fiquei desejando ardentemente estar presente quando este padre fizesse uma
oração. É claro que eu sabia que Deus estava sempre comigo, sem precisar de
terceiros. Mas eu tinha uma imensa confiança na oração do Pe. Tardiff. Ele foi
uma pessoa escolhida por Jesus. E quando Jesus cisma com uma pessoa, Ele cisma.
Muitos são chamados e poucos escolhidos.
Aconteceu
que o Pe. Tardiff cancelou sua presença no Encontro porque estava doente.
Fiquei desolada. Dei por perdida minha viagem, mas não disse isso para minha
mãe, pois eu sabia que iria ouvir.
Ficamos
hospedadas no velho Hotel Nacional, aquele redondo, que foi desativado há muito
tempo. Muito bom hotel na época e tínhamos uma visão deslumbrante da Favela da
Rocinha. Era só abrir de fora a fora as cortinas e a janela envidraçada que
rodeava todo o quarto nos oferecia aquela vista surpreendente. Como eu havia
ficado desanimada com a ausência do Pe. Tardiff, adorava voltar do Rio Centro, (local
do Encontro) porque podia ficar me distraindo a observar a vida pululante na
Rocinha. Naquele tempo ainda não era perigoso como se tornou depois. As balas
perdidas ainda não pipocavam.
Bem,
do que quero falar? Amados por Deus como somos, mesmo nesta vida de violentas
tempestades, Ele, que sabe de todas as coisas, Ele, que é bom pagador, não me
deixou de mãos vazias, embora eu não tivesse percebido naquela época.
Numa
manhã quando descemos para o café, o restaurante do hotel estava cheio e eu
podia ouvir muitas vozes de nossos companheiros de Encontro falando inglês e
espanhol. Numa mesa próxima reparei num homem, talvez colombiano ou boliviano,
tanto faz, que estava prestes a começar seu desjejum. Mas antes, ele fechou os
olhos, eu reparando, depois ele fez o sinal da cruz bem devagar. Ficou alguns
momentos ainda de olhos fechados. Depois foi se servindo, sorridente com quem
chegava à sua mesa.
Eu
achei tão bonito isso, como minha sensibilidade mandava, mas tão bonito! Fiquei
encantada. Alguém poderá dizer: ora, isso é comum, muita gente faz oração às
refeições. Eu sei. Minha irmã mais nova com meu cunhado e os filhos, fazem
oração antes da refeição desde sempre. Quando vamos lá, participamos, é claro.
Mas
o significado disso para mim naquele momento de minha vida foi especial. Deus
me presenteou com aquela lembrança que ficou indelevelmente impressa em minha
alma e em meu coração. Uma pessoa que se lembra de Deus na hora da refeição,
que agradece e pede que Deus abençoe o alimento, é uma pessoa que já entregou
seu dia e sua vida ao Senhor. Senti uma santa inveja daquele homem. A atitude
dele era carregada de santidade.
Não
só nunca me esqueci disso, como essa lembrança sempre me visita carinhosamente.
E só muitos anos depois, quando li Santa Teresa de Ávila, compreendi o que ela
dizia quando falava: um erguer de olhos, como o publicano, já é uma grande
intimidade com Deus. Deus nada despreza, Deus é Deus, faz o que quer e como
quer.
Não
vi o Pe. Emiliano Tardiff, não ouvi sua oração, mas não voltei de mãos vazias.
Ali foi plantada uma semente. Compreendi que já no início do dia, podemos
deixar Deus entrar e participar de nossa vida. E se puder, em muitos outros
momentos do dia. Ele estará disponível sempre. Nós é que O afastamos para nos
dar às largas ao mundo.
Se
eu tivesse santidade para ouvir Deus, certamente eu ouviria: “não tem o Pe.
Emiliano Tardiff, mas você tem a Mim”.
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