O ano,
não sei precisar, início dos anos 80, certamente. Foi minha primeira viagem,
Buenos Aires, “Bariloche”, Lagos Andinos, subindo o Chile por toda sua
extensão, seguindo as Cordilheiras dos Andes. A imagem parecia um maravilhoso
bolo de noivas confeitado com suspiros branquinhos. Paramos em Puert Montt,
depois Santiago, Vinha Del Mar, Valparaiso, como não me lembrar? Eu, Sandra,
Musa e Fernando.
Em
Bariloche fizemos um passeio de barco, parando na Isla Victoria e Bosque de
Arrayanes. Ao sabor das ondas no lago Nahuel Huapi, tivemos a oportunidade de
posar para uma foto individual dando bolachinhas para as ruidosas gaivotas que
sobrevoavam o barco. Fiquei um pouco apreensiva com a ave se aproximando,
quando senti um puxão na bolacha. Esqueci o fato. Depois de alguns dias
apareceu o fotógrafo em nosso hotel para nos passar as fotos. Imagine só: a
minha foto foi a única que pegava a gaivota bicando a bolachinha. Todos os
outros participantes não tiveram esse carinho. Era a gaivota pra lá e a bolacha
pra cá, mas a minha! Que linda!
Sempre
quis voltar a Bariloche. Poderia em qualquer tempo, mas não o fiz antes, por
que será? Não sei. Guardava imagens vagas do hotel, dos lugares lindos, pudera,
quantos anos depois! Só que apenas agora de algum tempo pra cá me acossou um
desejo sôfrego de voltar àquela cidade linda. E não é que no momento em que a
simpática Carol da CVC me mostrava imagens de hotéis, eu me deparei com o hotel
em que ficamos hospedadas há quase quarenta anos! Fui inundada de recordações,
sempre comprovando que envelhecer é viver de saudades, emoções e lembranças.
Realmente, coincidências à parte, foi o momento exato, preparado pelo destino,
vida, chamem lá do que quiserem. O fato é que eu percorri o velho hotel, o
saguão onde o fotógrafo nos entregou as fotos, localizei até o quarto onde
ficamos.
Só
faltava rever a gaivota! Lógico que estou brincando, gente, mas quem sabe foi
uma descendente direta daquela! Nada foi fácil, juro! Ventava frio pra caramba!
Era uma fotógrafa muito jovem. Diferentemente do fotógrafo daquela época, ela
foi logo me dizendo que não tinha bolachas, que eu providenciasse. Subi para o
convés, quase desisti. O quê? Desistir o quê? Eu? Nunca! Comprei a bolacha,
desci, entrei na fila. Tiritando de frio, fui me deliciando com a proximidade
do momento. Até que enfim! Demorou, eu de braço em riste, firme esperando pela
gaivota. Ela veio feliz, eu mais ainda! Agora, quatro décadas depois, eu a
encarei nos olhos e ela me encarou também. Eu era só felicidade! Como sou
romântica! Como mereci este reencontro!
Não
fui com o maridão. Se até já fui de lua de mel para Portugal com minha irmã,
agora fui para Bariloche de lua de mel com minha prima Lígia! Minha lua de mel
com o marido é todo dia, toda hora, em todo o tempo e qualquer lugar.
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