Quem
já não teve uma prima a quem admirasse profundamente? Eu tive e passei a
chamá-la de Prima Hepburn porque embora não se parecessem tanto assim, ela me fazia
lembrar a famosa atriz, pela elegância e beleza que exalava em todos os
momentos de sua vida. Não havia um instante sequer em que a Prima Hepburn não
estivesse absolutamente encantadora, fosse num baile, ou preparando um almoço
ou simplesmente caminhando. Há mulheres assim, que não se esforçam para serem
bonitas, no entanto são e pronto. É algo de dentro, uma elegância interior, um
charme nato. Parecem viver sempre envoltas em brumas. Não, não é para qualquer
uma.
Ela
era um pouco mais velha que nós e viajava para ficar conosco nas férias quando então
podia aprender a costurar com minha mãe, que sendo exímia costureira, não teve
aluna mais brilhante e eminentemente criativa que minha prima. De qualquer
pedaço de pano ela conseguia fazer uma blusa incrível ou um tubinho superelegante
à La Hepburn, que faria Madame Chanel babar de inveja! Melhor, se minha prima
fosse contemporânea de Madame Chanel, elas teriam formado uma dupla invencível.
A
Prima Hepburn sempre conseguia dar um toque diferente nas roupas mais comuns,
como por exemplo, no uniforme de colégio. Quem ousaria mexer num uniforme tão
tradicional? Pois ela subia um pouco mais a gola ou franzia o ombro e o
resultado era surpreendente! Anos mais tarde, quando esperava seu primeiro
filho, ela apareceu na cidade usando um vestido de grávida que era um luxo!
Imagine, ela conseguiu juntar o azul e o verde numa roupa, coisa impensável
para a época! Ninguém jamais havia tentado essa façanha, azul podia ser combinado
com outras cores, mas com verde, jamais! E ficou divino!
Quando
ela fez quinze anos, houve uma grande festa em sua casa. Não fomos porque ainda
éramos meninas e desajeitadas para bailes, mas fiz questão de ver as fotos
deslumbrantes, entre elas a foto do vestido que ela mesma fez e usou. Em certo
momento da festa, seu pai apareceu no melhor estilo vindo de dentro da casa, trazendo
os sapatos de saltinhos da filha em cima de uma almofada de veludo vermelho.
Não sei se por conta de minha alma encantada ou de meus sonhadores olhos de
menina, mas poderia jurar que os sapatos brilhavam como se fossem incrustados
de diamantes. O baile foi um acontecimento e tanto na cidade e a Prima Hepburn
se comportou como uma insigne princesa fazendo sua aparição oficial à sociedade
local. Aposto que também Lady Di ficaria meio sem graça se visse minha prima.
Estávamos
presentes no seu casamento, é claro. Eu não podia mais conter minha ansiedade
até que ela surgiu e foi caminhando para a igreja dando o braço ao pai. Ela
confeccionou seu próprio vestido de noiva e ele era simplesmente inédito. Prima
Hepburn escolheu um adorno para a cabeça parecido com aqueles que as espanholas
usam ou usavam, com o véu rendado caído assim de cima como uma cachoeira branca
e brilhante. Fiquei fascinada!
E
assim a querida Prima Hepburn seguiu pela vida, sempre elegante com os filhos e
agora com os netos. Sua pose de princesa amadureceu e ela está mais charmosa do
que nunca. Mas trago nas minhas mais caras recordações de infância a imagem de
minha prima a cantar enquanto fazia os moldes. Depois ela levantava cada peça e
balançava a cabeça satisfeita com sua própria obra de arte, o que fazia com que
seus longos cabelos negros dançassem de um lado para o outro. Eu, então, com
meus cabelos curtinhos de menina, suspirava profundamente e ficava espreitando
meio de longe para poder admirá-la à vontade. Não, decididamente não havia
prima mais linda e elegante no mundo!
Saramago
disse certa vez: “Que há de mais maravilhoso que o amor e a admiração de uma
criança por uma pessoa adulta?” É por aí, como dizem.
Endosso tudo o que está escrito...conheci também, é claro, a Prima Hepburn, tivemos alguma convivência, pois ela, quando se casou foi viver para longe daqui. Mas guardo comigo a lembrança dos momentos em que nos reunimos e era exatamente como descreve a autora...compartilho também a mesma admiração, afeto e carinho por esta prima querida.
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