segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Santo Antonio

                                                                                                      
Fomos eu e minha irmã fazer uma novena, novena não, trezena para Santo Antonio. Na verdade, eu fui apenas fazer companhia para minha irmã que sofria porque o namorado estava doente e ela pedia a Santo Antonio que o curasse. Foi uma santa aventura. Subíamos uma ladeira para pegar a chave da igrejinha, conversávamos com a senhora que tomava conta da chave, descíamos. Era meio estranho abrir a porta da igreja como se fosse uma casa, como a gente faz quando abre a porta da própria casa. Era como se abríssemos a porta da casa de Santo Antonio ou a porta do Céu. E lá estava ele, representado naquela imagem imensa.
Antes de começar a rezar eu dizia assim para minha irmã, feche os olhos e tenta pensar assim: se Santo Antonio ainda fosse vivo e se a gente soubesse que ele já tinha a fama de ser santo, amigo particular e íntimo de Deus, que gostava de rezar pelas pessoas, nós iríamos procurar por ele para que nos ajudasse, não é? Assim, pessoalmente, entende? Pediríamos que fizesse uma oração por nós porque tínhamos necessidade de graças. Iríamos até sua casa, ele nos receberia, perguntaria o que nos trazia e diríamos, assim como quem conta uma aflição a um amigo. Aí, ele decerto coçaria a cabeça e pensaria “é cada uma” ... e diria, “vamos falar com Deus” ... Assim, imaginando que o santo em pessoa nos ouvia, ficava mais fácil pedir e acreditar que ele nos atenderia.  
Assim fizemos por treze semanas. Lá pelo fim da trezena, a igreja ou a “casa de Santo Antonio” já era “nossa casa”, ou dizendo de outro modo, nos sentíamos em casa. Foi aí que eu tive a idéia de aproveitar a trezena de minha irmã para fazer um pedido extra ao santo. Desanimada de acertar um namorado bom, arrisquei pedir a ajuda do Céu. de minha irmã. Mas Eu disse, “olha aqui, Santo Antonio, eu não estou querendo nada, mas ... mas, se o senhor não estiver muito ocupado e se na lista de pedidos de graças ainda couber mais um neste mês, eu gostaria de pedir um namorado. Para dizer a verdade, um marido porque já não sou tão nova para ficar namorando. Mas, olha aqui, eu estou com muita vontade de conhecer um homem bom, muito bom mesmo, viúvo, não me pergunte por que, porque eu não sei, que seja de bem com a vida, que tenha as mãos grossas de trabalhar (não tenho a menor idéia por que mencionei este detalhe, saiu, simplesmente), que trabalhe com madeira ou tijolos, sei lá, o senhor entende o que estou querendo dizer, não é? Um homem digno, que goste de mim e me valorize, que assobie “Granada” enquanto trabalha, pode ser outra música também. Se puder, tudo bem, fico feliz. Se não puder, tudo bem também, fica o dito pelo não dito, até porque a trezena não é minha, mas quem sabe?”
Minha irmã que sempre rezava enxugando as lágrimas, surpreendida com o meu pedido, não conseguiu conter o riso. Nunca vi nada mais bonito do que lágrimas misturadas ao riso. 
Alguns meses depois, conheci meu marido. Ele veio do jeitinho que eu pedi a Santo Antonio. Para dizer a verdade, Santo Antonio exagerou. Acho que ele gravou mais o detalhe das “mãos grossas” que eu mencionei. Para os desavisados, alerto: cuidado com o que pedem a Santo Antonio, ele leva tudo ao pé da letra. As mãos não precisavam ser tão grossas assim, mas valeu!
Ah, quanto a minha irmã, também foi atendida.
Santo Antonio, rogai por nós!.        





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