quinta-feira, 11 de junho de 2020

A QUESTÃO DOS NOMES




Mais cedo ou mais tarde sempre retorno à questão dos nomes. Fico imaginando como os homens das cavernas se chamavam uns aos outros, depois que a linguagem teve início, é claro. Ninguém existe sem um nome. É da essência do “homem” (da mulher também) ter um nome e chamar seus próximos por um nome.
Colocamos nomes nos animais. Evidentemente que há aqueles que não têm nome, mas assim que são adotados ou recolhidos a um abrigo, logo já recebem um nome. Os nomes são importantes para todos. Mas isso de dar nome aos animais é coisa dos humanos porque eles próprios vivem muito bem sem nomes. Acho uma graça os nomes de cachorros: Piloto, Pitoco (apelido: Toquinho), Pituca, Juju, Joia, Diana, Fineza, Lalá, Rex, Belinha, Tukinha, Bolinha. Os nomes de gatos vão por aí também.
Mas nossos nomes, nossos dos homens e das mulheres, esses sim são indispensáveis. As pessoas não existem sem seus nomes. Quando a mulher fica grávida, já trata de procurar um nome para seu filho ou filha. E quem encontra com uma grávida logo pergunta: já escolheu um nome? e a moça responde: estamos em dúvida, não sei se escolho tal ou tal nome. Um escritor que escreve seu romance já escolhe os nomes para seus personagens, pois não existirá história sem os nomes. Até que é possível, fiz um conto que se chama “O Amante” em que trato meus personagens por Ele e Ela e assim vai até o fim do conto. Mas não nos esqueçamos de que é um conto curto e assim fica mais fácil não se preocupar com os nomes. Este conto ganhou um prêmio nacional, diga-se de passagem.  
Adoro os nomes que vão mudando para apelidos. Minha avó paterna chamava-se Mariana, mas era Dona Mulata e permaneceu assim para sempre. Acho que lá no Céu também ela ficou sendo Mulata. A Babá da família da minha prima foi Babá a vida inteira e poucos sabiam que seu nome era Aparecida Inês.   
Relendo o livro “A jangada de Pedra” de Saramago, apenas e unicamente para ler de novo a passagem em que acontece a paixão ou o amor ou ambos entre José Anaiço e Joana Carda (os nomes portugueses são geniais) achei um exemplo de como os nomes vão se transformando. Joana pergunta a José Anaiço: este apelido de Anaiço, donde é que te veio? E ele responde: Um avô meu chamava-se Inácio, mas lá na aldeia trocavam-lhe o nome, deram em dizer Anaiço e com o tempo tornou-se apelido da família (em Portugal, acho que Espanha também, sobrenome é apelido). E tu por que é que te chamas Carda? Em tempos passados a família tinha o apelido de Cardo, mas a uma avó que depois de lhe morrer o marido ficou com a família, começaram a lhe dar o nome de Carda e assim foi passando e ficando.
Muito antigamente não havia sobrenomes. As pessoas eram conhecidas pelo lugar de nascimento ou de morada. Jesus de Nazaré, que nem nasceu em Nazaré, mas em Belém. Paulo de Tarso (Tarso, cidade da Turquia), Francisco de Assis. Ou em tempos modernos, pela profissão, Jorge eletricista, Juca bombeiro.
As mulheres eram identificadas pelos nomes do marido, Zezé do Tote, tia Dita do tio Finfa, a Tusa do Jofre, Sebastiana do Bernardino. Quando a mulher não era casada, era a fulana, irmã da Zezé do Tote, por exemplo. Também os filhos são identificados pela mãe, Antonio Carlos da Samaria, Fátima da Dona Olímpia.
Eu sou a Misa, segunda filha da Zezé do Tote. Depois de casada, passei a ser a Misa do Motta. Ele adorou!     

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