Mais
cedo ou mais tarde sempre retorno à questão dos nomes. Fico imaginando como os
homens das cavernas se chamavam uns aos outros, depois que a linguagem teve
início, é claro. Ninguém existe sem um nome. É da essência do “homem” (da
mulher também) ter um nome e chamar seus próximos por um nome.
Colocamos
nomes nos animais. Evidentemente que há aqueles que não têm nome, mas assim que
são adotados ou recolhidos a um abrigo, logo já recebem um nome. Os nomes são
importantes para todos. Mas isso de dar nome aos animais é coisa dos humanos
porque eles próprios vivem muito bem sem nomes. Acho uma graça os nomes de
cachorros: Piloto, Pitoco (apelido: Toquinho), Pituca, Juju, Joia, Diana, Fineza,
Lalá, Rex, Belinha, Tukinha, Bolinha. Os nomes de gatos vão por aí também.
Mas
nossos nomes, nossos dos homens e das mulheres, esses sim são indispensáveis. As
pessoas não existem sem seus nomes. Quando a mulher fica grávida, já trata de
procurar um nome para seu filho ou filha. E quem encontra com uma grávida logo
pergunta: já escolheu um nome? e a moça responde: estamos em dúvida, não sei se
escolho tal ou tal nome. Um escritor que escreve seu romance já escolhe os
nomes para seus personagens, pois não existirá história sem os nomes. Até que é
possível, fiz um conto que se chama “O Amante” em que trato meus personagens
por Ele e Ela e assim vai até o fim do conto. Mas não nos esqueçamos de que é
um conto curto e assim fica mais fácil não se preocupar com os nomes. Este
conto ganhou um prêmio nacional, diga-se de passagem.
Adoro
os nomes que vão mudando para apelidos. Minha avó paterna chamava-se Mariana,
mas era Dona Mulata e permaneceu assim para sempre. Acho que lá no Céu também
ela ficou sendo Mulata. A Babá da família da minha prima foi Babá a vida
inteira e poucos sabiam que seu nome era Aparecida Inês.
Relendo
o livro “A jangada de Pedra” de Saramago, apenas e unicamente para ler de novo
a passagem em que acontece a paixão ou o amor ou ambos entre José Anaiço e
Joana Carda (os nomes portugueses são geniais) achei um exemplo de como os
nomes vão se transformando. Joana pergunta a José Anaiço: este apelido de
Anaiço, donde é que te veio? E ele responde: Um avô meu chamava-se Inácio, mas
lá na aldeia trocavam-lhe o nome, deram em dizer Anaiço e com o tempo tornou-se
apelido da família (em Portugal, acho que Espanha também, sobrenome é apelido).
E tu por que é que te chamas Carda? Em tempos passados a família tinha o
apelido de Cardo, mas a uma avó que depois de lhe morrer o marido ficou com a
família, começaram a lhe dar o nome de Carda e assim foi passando e ficando.
Muito
antigamente não havia sobrenomes. As pessoas eram conhecidas pelo lugar de
nascimento ou de morada. Jesus de Nazaré, que nem nasceu em Nazaré, mas em
Belém. Paulo de Tarso (Tarso, cidade da Turquia), Francisco de Assis. Ou em
tempos modernos, pela profissão, Jorge eletricista, Juca bombeiro.
As
mulheres eram identificadas pelos nomes do marido, Zezé do Tote, tia Dita do
tio Finfa, a Tusa do Jofre, Sebastiana do Bernardino. Quando a mulher não era
casada, era a fulana, irmã da Zezé do Tote, por exemplo. Também os filhos são
identificados pela mãe, Antonio Carlos da Samaria, Fátima da Dona Olímpia.
Eu
sou a Misa, segunda filha da Zezé do Tote. Depois de casada, passei a ser a
Misa do Motta. Ele adorou!
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