quinta-feira, 19 de novembro de 2020

ADORÁVEIS MULHERES

 


Tenho quatro primas que são quatro irmãs inseparáveis. Cada uma mora em uma cidade, mas sempre que possível elas se encontram, ora em casa de uma ou de outra. Quando elas têm um fim de semana inteiro para estarem juntas, é uma festa. Falam de tudo, riem muito. São espirituosas, alegres e engraçadas. Suas filhas e sobrinhas adoram estar presentes para ouvir as prosas.

Na minha família somos três irmãs e uma mora bem longe e quando vem, também é uma festa. Nossas conversas vão de lembranças, de receitas, de cães e gatinhos, de tudo. Falamos muito das coisas de Deus, dos santos e piedades. É tão bom!

Certa vez uma amiga me contou que sua mãe quando encontrava as irmãs e eram muitas, a alegria era tão grande que elas ao longo da vida desenvolveram uma linguagem própria, coisa de linguística mesmo, de assustar os estudiosos da matéria. Falavam e só elas entendiam aquela linguagem de amor e alegria!

As famílias eram numerosas nos tempos antigos e assim, as irmãs também eram muitas, mas eu sempre me lembro de Nossa Senhora que sendo filha única visitou Santa Isabel, sua prima, e como devem ter conversado naqueles meses!

Outro dia, li no Medium, plataforma americana onde também posto crônicas, li um artigo que me emocionou. A autora conta que faz parte de três gerações de mulheres que se reuniam, avós, mães e filhas, ao redor de um bordado imenso que rodeava uma grande mesa. Ali todas juntas, elas falavam de tudo como nós aqui. Cada uma trazia seu material e a colcha bordada era chamada de “Crazy Quilt” (Colcha louca). Elas conversavam, riam e às vezes choravam. A tradição acabou com a morte da última avó na década de 80. Ela comenta sobre a sabedoria que ganhou das nove mulheres que mantinham vivas a colcha e a amizade. 

Reflito também sobre as lavadeiras de antigamente que lavavam as roupas no rio, levavam aquelas tábuas tanquinho. Como riam, como falavam, como cantavam, às vezes também choravam. Tudo com o ruído da água que passava. A vida era difícil como ainda é, só que essas mulheres, quando se reuniam, eram felizes.

Percebo que as mulheres são mais unidas, mais cúmplices, mais fraternas, é da nossa natureza, somos assim, sensíveis, acolhedoras. Sentimos coisas milenares, inomináveis. Podemos carregar dores inconsoláveis em silêncio, choramos sempre, mas também podemos tagarelar um dia e uma noite inteira, rir até cansar. Trazemos sabedoria e fortaleza dentro de nós desde que nascemos. Sabemos consolar umas às outras. Somos seres especiais, somos a alma da família, a alma da casa. Mia Couto que o diga:

- Tenho saudades de minha casa, lá na Itália.

- Também eu gostava de ter um lugarzinho meu, onde pudesse chegar e me aconchegar.

- Não tem Ana?

- Não tenho? Não temos, todas nós, as mulheres.

- Como não?

- Vocês, homens, vêm para casa. Nós somos a casa.

(Extracto de um diálogo entre o italiano e Deusqueira – O último voo do flamingo, Mia Couto)

 

            Nunca vou me esquecer de uma amiga que fez o seguinte comentário: “Se as mulheres governassem o mundo, não haveria guerra” (Elika Takimoto)

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário