Nada
me comove mais do que a piedade infantil, a inocência bendita! Na “História de
uma Alma”, Santa Teresinha conta que bem pequena viu um pobre velho que
penosamente se arrastava em duas muletas. Correu ao seu encontro e quis dar a
ele seu “vintenzinho”. Para surpresa dela, ele recusou, mas lançou a ela um
triste olhar e um doloroso sorriso. Santa Teresinha era muito pequenininha, mas
recordou-se de ter ouvido dizer que no dia da Primeira Comunhão alcançavam-se todas
as graças pedidas. Ela guardou em seu coração a promessa de pedir pelo
pobrezinho e cumpriu este pedido daí a cinco anos, quando então fez sua
Primeira Comunhão. “E sempre cri que a minha prece infantil por esse pobre
homem tivera a benção e recompensa do Céu.” Disse ela.
Hoje,
assistindo ao Terço pela Canção Nova, percebi que a moça que sempre está lá
dirigindo o terço havia levado sua filhinha. E a menina foi contemplar o último
mistério. Como toda criança, comeu algumas sílabas, engasgou, e achei uma graça
quando ela repetiu dez vezes: “Bendito é o fruto do “nosso” ventre”. Ri muito.
E
não pude deixar de me lembrar, sorrindo sozinha, quando minha sobrinha
pequenininha rezava o final do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do ‘LOBO MAU’. Amém.” Tudo na maior seriedade. Um amor!
Meu
irmão mais novo, na época, com seis anos talvez, chutando bola no corredor de casa
acertou um lindo crucifixo de gesso com o rosto de Jesus em dourado. O gesso
espatifou-se pelo chão. Minha mãe veio correndo da cozinha e já encontrou meu
irmão arrasado, vertendo lágrimas sem remédio, com o rosto vermelho, como me
lembro disso! Ele chorava copiosamente, não por medo de levar uns tabefes, mas
por ter machucado Jesus. Minha mãe bem que queria partir para uns tabefes, mas devido
ao estado lamentável do meu irmão, ela não teve outra coisa a fazer a não ser
consolá-lo. Era real para ele que Jesus havia sido machucado. Fico pensando em
Jesus sorrindo com carinho para aquele menino que ele era.
Santa
Teresinha já era santa quando menina, já era predestinada, mas sua vida não foi
mais fácil por isso, pelo contrário, foi muito difícil (“Não imaginava eu então
que para chegar à santidade, fosse preciso sofrer tanto”). Entretanto, quando
criança, era uma menina ativa, feliz, espirituosa, voluntariosa, fazia mil
perguntas para a mãe, era mimada por todos. Falava muitas coisas bonitinhas
sobre o Céu.
A infância é receptiva e sábia, marcada
pela intuição. Não é por acaso que Jesus aconselhava que acolhêssemos o reino
de Deus como uma criança. Quando nos tornamos adultos, vacilamos na fé. Vamos
caminhando sobre as águas, mas tal como Pedro, quando o vento fica mais
acirrado, somos tomados pelo medo e afundamos. Já não podemos mais contar com a
sagrada inocência da infância em que todas as coisas são possíveis.
Se a gente não se fizer criança, a vida
ficará difícil, seremos estranhos num mundo cada vez mais estranho e
impossível. Não podemos também mais contar com o colo dos pais, mas temos os
braços do Pai do Céu para nos acolher.
Feliz Dia das Crianças para todos nós!
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