Refletindo, gente. É claro que já
vivi muito e muito mais do que viverei. A vida passou, como diz minha irmã. E a
gente só se dá conta de que viveu este tanto quando já viveu, óbvio.
Interiormente não me sinto velha nem amadurecida, no sentido de maturidade.
Convivo com gente de todas as idades, e me deparo, curiosa com algumas pessoas
incrivelmente mais novas do que eu e mais maduras. Sinto uma estranheza com
relação a isso. E me pergunto: Misa, quando você vai ser madura? Não sei. Sou
do jeito que sou. Assim vou passando os dias como se fossem os últimos ou os
primeiros dessa imensa eternidade chamada Vida.”
E aí refletindo, não posso deixar de
me lembrar de Roland Barthes, o linguista filósofo, ou filósofo linguista de
quem gosto tanto. Ele fala sobre o meio de nossa vida, não significando um
ponto aritmético, até porque não sabemos quando vamos morrer. Pela lógica,
aritmeticamente falando, já passei há muito do meio de minha vida, mas Barthes
fala que “a idade não é progressiva, é mutativa”. Para o filósofo, o meio da
vida significaria um momento tardio quando sobrevém o chamado de um novo
sentido, o desejo de uma mudança, mutação me parece o termo ideal. Não devemos
olhar nossa idade como um rosário de anos, mas em casas de idade, em patamares.
Se olharmos a idade como uma sequência de anos, podemos começar uma contagem
regressiva, irreversível. E Barthes também lembra que todos nós já nos
conhecíamos como seres mortais, mas em certo patamar, de repente, sentimo-nos
mortais. Conhecer é bem diferente de sentir.
Mas e daí? O que fazer com a vida
para dar sentido a ela? Às vezes sinto a vida como uma eterna repetição, o
trabalho que todos saem a fazer todos os dias, mas já estou aposentada, no
entanto, o trabalho de casa também é uma repetição. Eu escrevo crônicas e
poemas, como gosto disso! Vario os temas, mas o que faz o escritor a não ser
escrever o mesmo livro de diferentes formas, a vida inteira, já dizia Gabriel
Garcia Marques. A gente sempre volta no mesmo ponto, tal qual o infeliz Sísifo.
Não, a vida não pode ser uma monótona repetição.
Não quero viver contando
progressivamente meus dias, quero viver de mutações. A mutação a que devemos
nos submeter pode ser a inauguração de uma nova etapa. Geralmente é quando nos
sobrevém um acontecimento que nos marca. E este seria o meio da vida. Para
alguns mais cedo, para outros mais tarde. E Barthes nos diz que este meio da
vida é quando se descobre que a morte é real, e já não apenas temível.
É preciso fazer algo, urge ser feliz,
urge viver. Já vivi “dois meios da vida”. Sofri mutações. Para quem escreve e
para quem lê, a literatura salva. Vou escrever um romance recheado de ternura.
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