quarta-feira, 12 de outubro de 2022

EM CERTO PONTO DA VIDA

 

 

Refletindo, gente. É claro que já vivi muito e muito mais do que viverei. A vida passou, como diz minha irmã. E a gente só se dá conta de que viveu este tanto quando já viveu, óbvio. Interiormente não me sinto velha nem amadurecida, no sentido de maturidade. Convivo com gente de todas as idades, e me deparo, curiosa com algumas pessoas incrivelmente mais novas do que eu e mais maduras. Sinto uma estranheza com relação a isso. E me pergunto: Misa, quando você vai ser madura? Não sei. Sou do jeito que sou. Assim vou passando os dias como se fossem os últimos ou os primeiros dessa imensa eternidade chamada Vida.”

E aí refletindo, não posso deixar de me lembrar de Roland Barthes, o linguista filósofo, ou filósofo linguista de quem gosto tanto. Ele fala sobre o meio de nossa vida, não significando um ponto aritmético, até porque não sabemos quando vamos morrer. Pela lógica, aritmeticamente falando, já passei há muito do meio de minha vida, mas Barthes fala que “a idade não é progressiva, é mutativa”. Para o filósofo, o meio da vida significaria um momento tardio quando sobrevém o chamado de um novo sentido, o desejo de uma mudança, mutação me parece o termo ideal. Não devemos olhar nossa idade como um rosário de anos, mas em casas de idade, em patamares. Se olharmos a idade como uma sequência de anos, podemos começar uma contagem regressiva, irreversível. E Barthes também lembra que todos nós já nos conhecíamos como seres mortais, mas em certo patamar, de repente, sentimo-nos mortais. Conhecer é bem diferente de sentir.

Mas e daí? O que fazer com a vida para dar sentido a ela? Às vezes sinto a vida como uma eterna repetição, o trabalho que todos saem a fazer todos os dias, mas já estou aposentada, no entanto, o trabalho de casa também é uma repetição. Eu escrevo crônicas e poemas, como gosto disso! Vario os temas, mas o que faz o escritor a não ser escrever o mesmo livro de diferentes formas, a vida inteira, já dizia Gabriel Garcia Marques. A gente sempre volta no mesmo ponto, tal qual o infeliz Sísifo. Não, a vida não pode ser uma monótona repetição.

Não quero viver contando progressivamente meus dias, quero viver de mutações. A mutação a que devemos nos submeter pode ser a inauguração de uma nova etapa. Geralmente é quando nos sobrevém um acontecimento que nos marca. E este seria o meio da vida. Para alguns mais cedo, para outros mais tarde. E Barthes nos diz que este meio da vida é quando se descobre que a morte é real, e já não apenas temível.

É preciso fazer algo, urge ser feliz, urge viver. Já vivi “dois meios da vida”. Sofri mutações. Para quem escreve e para quem lê, a literatura salva. Vou escrever um romance recheado de ternura.

 

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