Ontem, noite de Natal, fomos passar
algumas horas para a ceia na casa de minha enteada. Como às vezes ou quase
sempre acontece, sou acometida por certa angústia que me aperta o peito e me
faz suspirar. Presumo que esta espécie de melancolia natalina acontece porque
esta época me remete aos pais que já partiram, e neste ano especificamente foi
impossível não me lembrar de minha grande amiga que também partiu tão cedo. Procurei
a sacada para receber aquela lufada benfazeja da noite santa, e qual não foi
minha surpresa ao dar com a lua cheia, brilhante reinando na imensidão do céu,
uma coisa linda de morrer!. Aí eu disse: Motta, você viu a lua? E ele, tomando
calmamente seu vinho, me contou que pela primeira vez, desde 1977, ou seja,
após 38 anos, a lua cheia apareceu para iluminar as festividades do Natal. E
que agora só no Natal de 2034. Só Deus sabe o que será de nós em 2034 ...
E eu fiquei ali curtindo minha taça
de vinho e refletindo sobre a Lua, sobre a Terra e outros planetas que não
vemos. Quando eu era menina, por intuição, já tinha desenvolvido duas
estratégias para afastar o medo ou angústia: uma delas era pensar que tudo
passa, por exemplo, se eu tinha uma prova difícil na terça, eu ficava pensando,
“na quarta tudo terá passado”, e, de certa forma, isto me consolava. Outra
estratégia era sempre olhar a lua e pensar que o universo deixava suspensas no
céu várias bolas, umas maiores, como nossa Terra, e outras bolas menores como a
lua, esta tão perto de nós, tão visível, tão magnificamente linda, ao alcance
de nossos olhos. E quando eu pensava que a vida dos homens se passava em bolas
que giravam num universo sem fim, eu, apenas um serzinho entre milhares e
milhões, meu medo de qualquer coisa ficava menor. Somos tão pequenos!
Bem, entre um vinho e outro, eu me lembrei do
que realmente estávamos comemorando: o nascimento do Menino Jesus. Do Menino
passei para o Pai, o Criador de todas as coisas, assim acredito! Sim só Deus
para criar um cenário tão genial, tão lindo para nos presentear. Tudo aí, de
graça, é só olhar para o Céu! É tudo nosso e tratamos tão mal este nosso mundo,
seja cultivando mágoas, seja maltratando o planeta. Somos muito pequenos!
Hoje, já dia 25, fui à missa de
manhã, e vi na procissão de entrada, o Menino que logo foi colocado no seu
bercinho de palha sob os olhos amorosos de sua Mãe e seu Pai. O Menino que foi
um rei que dizia que seu reino não era deste mundo, que viveu e cresceu
pobremente durante toda sua vida, e que nunca teve nada dele, nunca teve casa,
a não ser o Presépio de Belém, onde nasceu, e a cruz onde morreu, como já bem
nos lembrava Santa Teresa de Ávila. Na hora do “Glória”, aquela música
lindíssima “Glóooooooooooria, in excelsis Deo ...”, eu fui cantando a plenos
pulmões até que vi uma senhora velhinha na minha frente que também cantava
baixinho. Algo nela me lembrou minha mãe, a pele fininha, um jeito qualquer que
na verdade não sei precisar qual era, mas algo nela me despertou a lembrança de
minha mãe velhinha, aí pronto, já não consegui cantar, tranquei os dentes e
abri a comporta das lágrimas que se romperam profusamente. Ao final da missa
todos se cumprimentaram com alegria e eu já me sentia refeita da emoção.
Agora, abro o Face e vejo a neta de
meu marido postar uma frase sobre o Natal: “Minha ideia de Natal, se antiga ou
moderna, é bem simples: amar os outros. Pense sobre isto, por que temos que
esperar o Natal para fazer isso?” Não, não temos. Pode ser um bom propósito
daqui para frente. A lua cheia vai aparecer hoje de novo. Vou curtir este
presente!
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