domingo, 27 de dezembro de 2015

Para o Ano Novo

No ano que vem
Ah! ... Eu vou ser feliz
Do jeito que eu sempre quis...



            E mais um ano se vai e mais um ano que vem. Como todos os anos, já refeitos do sentimentalismo natalino, vamos nos vestir de branco, erguer taças de champanhe, trocar votos de felicidades, estabelecer novas metas e abrigar no coração a esperança para tempos melhores. Faz-se um breve intervalo de euforia que culmina com o baile de réveillon onde dançamos, comemos e bebemos, como se a vida fosse uma eterna festa! E que seja pelo menos no último dia do ano!  No dia seguinte, um desconfortável silêncio se instaura como um prenúncio de realidade com gosto de depressão e ressaca. A correria de fim de ano vem ao encontro da aceleração planetária, expressão já na moda que traduz essa ansiedade generalizada que oprime de tal forma as pessoas que não dá a elas a chance de refletir sobre a vida, antes, obriga-as a vivê-la impetuosamente, passando a falsa impressão de que o dia de amanhã tem que ser vivido hoje, pois o hoje não foi vivido a contento, aliás, o mais apropriado seria falar em insatisfação planetária acelerada. Afinal, donde vem tanta insatisfação, essa sensação amarga de falta, de ausência?
            Será que esse sentimento de incompletude apareceu depois que o homem, que bem o diga Freud, passada a arrogância de seu narcisismo, deparou-se com a fragilidade de sua, até então, indiscutível e pretensa onipotência? Primeiro, descobriu que a Terra não era o centro do Universo, depois que sua natureza não era assim tão diferente da dos animais e por fim, que ele não era o senhor de sua própria casa, ou seja, havia uma grande parte da sua mente que ele não conhecia e não podia controlar. Solapadas, assim, as bases humanas, restou ao homem viver imprecisamente. Numa tentativa obstinada de controle, o homem sempre retoma e retorna ao leme, nutrindo-se de uma teimosa ilusão de que ele é quem manda e conduz. Doce ilusão, ledo engano! O rio corre mesmo é sozinho. Mas o homem é assim desse jeito, é da essência humana achar que pode tudo.
Mas, enfim, como ser feliz nessa imprecisão e ausência de garantias?  Como aquietar as ruidosas e dramáticas emoções se elas nos lembram continuamente de que caminhamos num tênue fio a milhares de metros do chão? Felicidade não tem fórmula nem receita, cada um que descubra a sua, talvez “só mesmo em raros momentos de distração”, como disse Guimarães Rosa que sabia de quase todas as coisas. Vamos vivendo, esbarrando na felicidade aqui e ali, mas ela se esquiva, não se dá por inteira, até parece querer nos dizer que ela só é plena quando nos esquecemos de persegui-la. Mas é Ano Novo, então, vamos parar de reclamar, recomeçar aquela dieta, frequentar um novo curso, sobretudo vamos amar um pouco mais as pessoas, a nós mesmos, os animais, a natureza, a cidade em que vivemos, o nosso país, o nosso planeta ferido e carente de amor. Vamos tentar ser mais tolerantes com a direita e com a esquerda.  
E para terminar, lembre-se, somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes, afinal de contas, nós somos o “Amor” (Carlos Drummond de Andrade).

            

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