Lendo
o texto que uma amiga postou no Face sobre “não querer ser jovem novamente”,
ponderei o seguinte. Bem, mas antes, falando mais sobre o texto, o autor nos
diz uma fala de Freud: “a morte é o alvo de tudo o que vive”. Ou seja, nossa
vida é um caminhar para a morte, e quer queiramos ou não (na verdade, não
queremos), vamos envelhecer, estamos envelhecendo ou já envelhecemos, e não há
nada, absolutamente nada que possamos fazer a respeito. Tudo nessa vida
envelhece, degenera-se, decompõe-se, e nós também. E depois da velhice, se não
morrermos antes disso, morreremos como todas as pessoas, como todo ser vivo, sem
exceção.
O
autor do texto nos aconselha a não querer ser jovem novamente, a abrir mão da
beleza exuberante, do frescor da pele jovem, da firmeza dos músculos, da
barriguinha de tanquinho, da memória infalível, e também nos aconselha a abrir
mão do passado e abraçar o presente. Se alguém já envelheceu, que aceite com
serenidade, sem querer ficar parecendo uma pessoa jovem, e isso também inclui
não exagerar nas roupas que só caem bem nos jovens ou nas jovens. Até já li
alguma frase de alguma entendida em etiqueta de quem agora não me lembro o
nome, que diz nada envelhece mais do que querer parecer jovem para sempre. É
verdade. Portanto, é um alívio poder relaxar e deixar acontecer, acolher a
velhice com aceitação e bom humor, pois sem o senso de humor a vida fica
difícil, até para os jovens.
Há
uma luta natural que nos impele a não aceitar a velhice, mas logo nos damos
conta de que não há como deter a lei natural da vida. Muitas plásticas,
procedimentos cirúrgicos, ou mesmo umazinha que seja (eu confesso que já fiz
uma) trará uma alegria momentânea e a ilusão passageira de ter bebido da fonte da
juventude eterna e de ter o viço de volta às nossas faces e corpos, mas a
velhice logo reclama e aflora aqui e ali mostrando que sua hora já chegou e lá
vem com as suas damas de companhia, as rugas, os pés-de-galinha, bigodes
chineses, e outros mais. É uma tortura lutar contra isso. É melhor capitular. Não
quis nem testar este novo produto tipo botox por algumas horas, uma coisa
realmente fabulosa, que tira rugas, manchas, olheiras, tira tudo, um verdadeiro
milagre, só que por algumas horas apenas. Até brinquei perguntando se vinha o
kit completo, quero dizer, o produto e o antidepressivo porque encarar o real
depois é uma lástima!
É
relaxar, é desapegar-se da imagem de jovem que não voltará. É sério, não
voltará. É verdade, e ter equilíbrio para tudo, para o comportamento, para as
roupas, ter cuidado com maquiagem exagerada. Nada mais triste do que uma velha
fantasiada de moça. Nada mais triste do que uma velha querendo viver paixões e
prazeres desenfreados. Isto não quer dizer que o amor e o relacionamento entre
pessoas mais velhas seja ridículo, não, o amor nunca será ridículo, o
companheirismo nunca será ridículo, o sexo nunca será ridículo, a menos que nós
os façamos assim.
A
despeito de tudo isso, não se pode negar que convivem dentro de nós, a criança,
o jovem ou a jovem que já fomos. Sim, somos a mesma pessoa com uma história
construída, com lembranças e emoções. No fundo não passamos de crianças que
apenas cresceram. Mas essa fase já passou. A menina e a jovem que fui são bem
acolhidas em meu interior, tenho o maior carinho por elas porque elas que me
sustentam, sem elas e a visão de vida que tiveram, eu não seria o que sou agora,
mas é preciso cuidado para não deixá-las me dominar, cuidado ao querer parecer
uma menina ou uma jovem quando já não o sou. Ser velha, tirando as limitações
físicas, não é ruim. Meu conselho, se é que posso dar conselhos, é sorrir e rir
muito. Os pés-de-galinha ficam mais acentuados, mas rir faz bem à alma, e esta,
bem, esta viverá para sempre e cabe a nós fazê-la bonita. Uma alma sábia é uma
alma bonita. Não deixe morrer a menina que está dentro de você, mas não se
vista como ela e nem queira ter a sua carinha. Já passou. Não dá mais.
Como
se aproxima o Natal, transcrevo aqui os “Versos de Natal” de Manuel Bandeira
que gosto muito e que justamente fala dos cabelos brancos, das rugas e também dos
desejos do menino que está dentro de cada um, e também fala do Natal, é claro:
“Espelho,
amigo verdadeiro, tu refletes as minhas rugas, os meus cabelos brancos, os meus
olhos míopes e cansados. Espelho, amigo verdadeiro, mestre do realismo exato e
minucioso, obrigado, obrigado!
Mas
se fosses mágico, penetrarias até ao fundo desse homem triste, descobririas o
menino que sustenta esse homem, o menino que não quer morrer, que não morrerá
senão comigo, o menino que todos os anos na véspera do Natal pensa ainda em pôr
os seus chinelinhos atrás da porta”.
Gente,
até o espelho, que não é mágico, nos fala a verdade! A gente é que não quer ver!
Ainda bem que tem o vinho.
ResponderExcluirAinda bem!
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