quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Envelhecer: bom não é, mas que remédio?


 
Lendo o texto que uma amiga postou no Face sobre “não querer ser jovem novamente”, ponderei o seguinte. Bem, mas antes, falando mais sobre o texto, o autor nos diz uma fala de Freud: “a morte é o alvo de tudo o que vive”. Ou seja, nossa vida é um caminhar para a morte, e quer queiramos ou não (na verdade, não queremos), vamos envelhecer, estamos envelhecendo ou já envelhecemos, e não há nada, absolutamente nada que possamos fazer a respeito. Tudo nessa vida envelhece, degenera-se, decompõe-se, e nós também. E depois da velhice, se não morrermos antes disso, morreremos como todas as pessoas, como todo ser vivo, sem exceção.
O autor do texto nos aconselha a não querer ser jovem novamente, a abrir mão da beleza exuberante, do frescor da pele jovem, da firmeza dos músculos, da barriguinha de tanquinho, da memória infalível, e também nos aconselha a abrir mão do passado e abraçar o presente. Se alguém já envelheceu, que aceite com serenidade, sem querer ficar parecendo uma pessoa jovem, e isso também inclui não exagerar nas roupas que só caem bem nos jovens ou nas jovens. Até já li alguma frase de alguma entendida em etiqueta de quem agora não me lembro o nome, que diz nada envelhece mais do que querer parecer jovem para sempre. É verdade. Portanto, é um alívio poder relaxar e deixar acontecer, acolher a velhice com aceitação e bom humor, pois sem o senso de humor a vida fica difícil, até para os jovens.
Há uma luta natural que nos impele a não aceitar a velhice, mas logo nos damos conta de que não há como deter a lei natural da vida. Muitas plásticas, procedimentos cirúrgicos, ou mesmo umazinha que seja (eu confesso que já fiz uma) trará uma alegria momentânea e a ilusão passageira de ter bebido da fonte da juventude eterna e de ter o viço de volta às nossas faces e corpos, mas a velhice logo reclama e aflora aqui e ali mostrando que sua hora já chegou e lá vem com as suas damas de companhia, as rugas, os pés-de-galinha, bigodes chineses, e outros mais. É uma tortura lutar contra isso. É melhor capitular. Não quis nem testar este novo produto tipo botox por algumas horas, uma coisa realmente fabulosa, que tira rugas, manchas, olheiras, tira tudo, um verdadeiro milagre, só que por algumas horas apenas. Até brinquei perguntando se vinha o kit completo, quero dizer, o produto e o antidepressivo porque encarar o real depois é uma lástima!    
É relaxar, é desapegar-se da imagem de jovem que não voltará. É sério, não voltará. É verdade, e ter equilíbrio para tudo, para o comportamento, para as roupas, ter cuidado com maquiagem exagerada. Nada mais triste do que uma velha fantasiada de moça. Nada mais triste do que uma velha querendo viver paixões e prazeres desenfreados. Isto não quer dizer que o amor e o relacionamento entre pessoas mais velhas seja ridículo, não, o amor nunca será ridículo, o companheirismo nunca será ridículo, o sexo nunca será ridículo, a menos que nós os façamos assim.
A despeito de tudo isso, não se pode negar que convivem dentro de nós, a criança, o jovem ou a jovem que já fomos. Sim, somos a mesma pessoa com uma história construída, com lembranças e emoções. No fundo não passamos de crianças que apenas cresceram. Mas essa fase já passou. A menina e a jovem que fui são bem acolhidas em meu interior, tenho o maior carinho por elas porque elas que me sustentam, sem elas e a visão de vida que tiveram, eu não seria o que sou agora, mas é preciso cuidado para não deixá-las me dominar, cuidado ao querer parecer uma menina ou uma jovem quando já não o sou. Ser velha, tirando as limitações físicas, não é ruim. Meu conselho, se é que posso dar conselhos, é sorrir e rir muito. Os pés-de-galinha ficam mais acentuados, mas rir faz bem à alma, e esta, bem, esta viverá para sempre e cabe a nós fazê-la bonita. Uma alma sábia é uma alma bonita. Não deixe morrer a menina que está dentro de você, mas não se vista como ela e nem queira ter a sua carinha. Já passou. Não dá mais.
Como se aproxima o Natal, transcrevo aqui os “Versos de Natal” de Manuel Bandeira que gosto muito e que justamente fala dos cabelos brancos, das rugas e também dos desejos do menino que está dentro de cada um, e também fala do Natal, é claro:
“Espelho, amigo verdadeiro, tu refletes as minhas rugas, os meus cabelos brancos, os meus olhos míopes e cansados. Espelho, amigo verdadeiro, mestre do realismo exato e minucioso, obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico, penetrarias até ao fundo desse homem triste, descobririas o menino que sustenta esse homem, o menino que não quer morrer, que não morrerá senão comigo, o menino que todos os anos na véspera do Natal pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta”.
Gente, até o espelho, que não é mágico, nos fala a verdade!  A gente é que não quer ver!

 


 

 

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