quarta-feira, 2 de março de 2016

A hemorroissa






            Naquele tempo, Jesus já não mais andava pela Galiléia, pelo menos não foi visto pelas pessoas com os olhos do corpo, pois 2.000 anos já haviam se passado. Mas Ele estava vivo como sempre esteve, ontem, hoje e sempre. E continuou a curar muita gente, embora sempre digam que não sei se foi isso que me curou ou aquilo ou aquilo outro porque sempre existe alguma coisa para confundir nossas mentes e nossos corações.
            Bem, havia uma mulher naquela vila e ela era uma prostituta, assim como fora sua mãe e sua avó. Ela dizia que não havia outra coisa para ser e fazer porque eram pobres e ignorantes. Ela tinha duas filhas, sem contar os outros filhos que não deixou nascer porque não teria como alimentá-los. Dizia que eles ainda não tinham alma, pois assim também o diziam sua mãe e sua avó, e assim sendo, não tinha importância porque nada sentiam. Na verdade, em seu coração, ela já os amava e imaginava como seriam, e sempre houve uma dor quando se lembrava deles. Os pais das crianças, estes, ninguém sabia quem eram porque muitos eram os homens que se deitavam com ela.
            Aconteceu que quando tinha trinta e cinco anos, ela teve uma grande hemorragia. Como não havia o que estancasse aquele sangue, ela foi ao hospital de uma cidade próxima. E lá, depois de alguns exames, disseram-lhe que tinha câncer de útero e dificilmente teria cura porque já estava em estado muito adiantado. Nada havia a fazer. Ela voltou assustada e triste. Tinha muita vontade de chorar, porém ela não tinha ninguém que a consolasse e que lhe desse um abraço. É verdade que algumas vezes ela quis morrer, algumas vezes era invadida por uma imensa tristeza, mas ela sentia medo da doença e medo da morte, e também sentia medo de que suas filhas ficassem completamente sozinhas. E ela quis viver uma vida de verdade.
            Então a mulher ouviu que no vilarejo vizinho havia um padre que recebera de Jesus o dom de curar as pessoas. Ele orava e muitos doentes ficavam curados. Mas ela tinha vergonha de ir até ele porque todos a conheciam e sabiam que era uma prostituta. Às vezes tinha vontade de ir à igreja, mas também não tinha coragem porque sabia de sua situação. Quando era menina, ela foi ao catecismo escondida da mãe. Via as meninas indo alegres e cheias de risos e quis ir também. Mas não foi aceita na turma de meninas e nem na aula de catecismo. Diziam que ela poderia participar se sua mãe deixasse de ser prostituta. Ela voltou chorando e chorou mais ainda quando contou à sua mãe que a repreendeu severamente. Igreja não é lugar para nós, dizia a mãe. Nossa sina é esta.
            E a mulher ficou se perguntando se ia ou não procurar pelo tal padre. As filhas ainda eram pequenas, mas ela dava um jeito. Agora, jeito para chegar na igreja, ah isso não tinha não. Quem sabe poderia falar com o padre sem que fosse ao templo, ela precisava tentar. Então foi até lá. Mas quando chegou, pensou em desistir porque havia uma multidão que se aglomerava para assistir à missa que seria celebrada ao ar livre porque eram tantos que não cabiam na igreja. A mulher sentindo-se desolada, desistiu. Mas antes que partisse ainda resolveu subir numa colina mais ou menos próxima de onde a missa estava sendo celebrada. Lá ninguém a veria e ela não seria apontada como prostituta.
            Não satisfeita em se afastar para longe da multidão, ainda se escondeu atrás de uma árvore e olhava e se escondia. Podia ver ao longe o padre, e na frente da multidão havia muitos doentes em macas e cadeiras de rodas. Então ali, apoiada na árvore, ela chorou. E pediu a Jesus no mais profundo de seu coração e com toda a transparência de sua alma, que a curasse. Disse a Ele que ela não poderia ficar no meio da multidão e nem assistir à missa por causa de sua condição. E quanto mais falava com Jesus, mais ela chorava. Lágrimas abundantes escorriam pela sua face. Disse a Ele que se pudesse ela iria até onde Ele estava. Veio-lhe à mente as crianças que havia abortado, então pediu perdão a elas e a Jesus. Depois encomendou suas filhas a Deus.
            Não sabia ela que neste momento, lá no altar improvisado debaixo do céu da tarde, o padre anunciava que uma mulher com câncer de útero e grande hemorragia estava sendo tocada por Jesus. Que ela soubesse que era muito amada por Ele, que Ele curava não só seu corpo, mas sua alma e seu coração. E Ele a amaria sempre, onde quer que ela fosse se esconder. O padre apenas transmitia o que lhe vinha no coração.
            A mulher sentiu um calor muito forte no útero, parecia que estava sendo queimada por dentro. A princípio pensou que estava morrendo. Depois de muito chorar, desceu a colina e foi para casa. Logo percebeu que a hemorragia havia cessado, mas não as lágrimas que escorreram de seus olhos por muitos e muitos dias ainda porque havia muita tristeza em seu coração que precisava sair. Daquele dia em diante ela nunca mais se prostituiu. Voltou ao hospital e lhe perguntaram o que ela fizera para sarar de um câncer. Ela disse que Jesus a havia tocado. E  muitos não acreditaram.
            “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever”. (Jo, 21,25)
(Baseado em fatos reais, acontecido com o Pe. Emiliano Tardiff, e romanceado por mim)

                     

Nenhum comentário:

Postar um comentário